vou embora para meus outros crimes, 2019
pasta suspensa, recortes de livro, acrílico e aço. 65x85x15cm
Em um texto de Clarice Linspector de 1962, a autora deixa registrado o seu espanto sobre a cidade: “construída com espaço pensado até para as nuvens, a criação de Lucio Costa e Niemeyer é para ela um mistério inexplicável, uma imagem resgatada do fundo dos seus sonhos.”
Este texto consegue refletir até os dias de hoje a intriga sobre a capital do país, pois apesar de ter sido idealizada para refletir um país socialmente mais igualitário, no seu pequeno território ela exacerbou as contradições de uma nação ainda muito desigual. Assim parece que a história de Brasília mescla surpresa e admiração. Nesse sentido Clarice afirma: “Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil; eles ergueram o espanto deles, e deixaram o espanto inexplicado”.
Por meio destas narrativas e de tantas outras, é possível observar que no Brasil, a ideia do progresso foi disseminada através da construção de Brasília e da reinterpretação antropofágica do movimento moderno. Porém aqui o progressismo tornou-se somente um momento histórico ao invés de um ideal a ser perseguido constantemente. Certamente há muitos percalços históricos que fizeram com que isso acontecesse, porém fica ainda mais evidente essa constatação com base na atual conjuntura política do país, onde o conservadorismo autoritário tomou conta de todo e qualquer agenciamento.
Novamente, os equívocos resultantes de um tempo repleto de certezas levou ao atual período nebuloso e oscilante entre apatia, anestesia, pós-verdade, tormento, euforia e fervor.